1.06.2006

Espaço e tempo

Um quadrado. Vi-te por um retrato. Tecto vermelho, orquídeas pousadas nos pés dos deuses. Paredes pintadas de guerras, memórias de temp(l)os destruídos. A princesa vagueava pelo ar, o espaço do futuro. Os mercadores das especiarias que aguçam a vontade de te cultivar despertaram. Vejo as rotas, rotas do meio. Filhos, espelhados ao longo do húmido soalho recriavam a vontade de redescobrir. Os profetas deslizavam pelas espadas longos cânticos que ouvi ressoar nas paredes. Zumbidos do teu coração. Alertas de repouso. A vida está aqui. Um circulo. Mãos dadas, beijos queimados pela brisa maritima. Os dias enamorados com as noites. A secura do feno bamboleante nas tuas costas. Transportas a memória e o que com ela não fizeste, a memória da ilusão e a ilusão da memória. Percebi-te, infinitamente espartilhada, quando, sem pressa, me deliciei a conjungar as mãos no horizonte. Vinhas de este. Trazias numa mão a pressa de amar e na outra o esquecimento do amor. Estava sentado na posição de lótus. Acarinhava ao centro o passado no espaço do presente e o futuro no espaço do teu olhar. A amplitude assutou-me! Tive que desenhar-te no mapa para te poder conter em mim. Perdi nesse momento a noção da finitude. Encontrei o medo de sentir. O medo de perder adquiriu-o o meu silêncio. Nesse momento intemporal, insurgiu-se o que eu temia: a figura passível de ser amada. Foi uma brusquidão que acelerou o tempo. Vi as rotas, os fumos, as caras, as saudades, as partidas, as caras tristes, cáries da saudade. Agora, parto em busca de uns espaço e tempo renováveis, a partir dos quais me possa lançar para a imensidão. Seguir-se-à a inconsciência, da emoção de explicação tácita, exaurível de demónios, insofismável. Descanso nos telhados do mundo. A vida passa, colhe flores e arranca pétalas..escolhe rumos. Calhou-nos a corola, calhou-nos o cerne da vida, calhou-nos viver sem tempo e espaço. Algures no espaço estelar, vejo daqui, brincam e degladiam-se beijos cortantes, abraços carnudos, cabelos sublimes. Qual sansão, o mundo vem atrás e traz a infinitude do acreditar, do fulminante reinado do sublime. Erguemos as mãos. Quem serão elas? Mãos de quem?

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