3.12.2009

Causas e consequências

De acordo com uma notícia do Jornal Público de hoje, a polícia alemã está a tentar perceber se os videojogos violentos influenciaram o massacre. Contudo, creio que, não obstante ser mediaticamente apelativo culpar os videojogos, talvez não fosse má ideia perceber causas e não conseguências ou derivas paralelas de um sofrimento que parecia ser monstruoso, de acordo com a mesma notícia. De facto, as inextricáveis e complexas causas deste sofrimento incomensurável, que descamba numa morte desenfreada, não pode tolerar análises superficiais e inócuas, como a que esta notícia alude.
Os videojogos poderão ter sido um mero consolo e massagem a uma identidade ferida, a uma imagem corrompida pelo "só se riem de mim; não sabem qual é o meu potencial". O mais gritante e aterrador será perceber quais são os factores que influem neste desfecho.

Maus tratos em casa? Na escola?
Abusos sexuais em casa?
Relação disfuncional com os pais?
Doença psiquiátrica?
Irmãos abusadores?
Colegas de escola cruéis?
Professores não responsivos à angústia?
Vizinhos mal intencionados e agressivos?
Comportamento mimético (pensar nos US e FIN)?
Desespero relativamente ao futuro, tendo em conta a crise económica da família?
Tendência depressiva?

A fluência das distorções identitárias - Quem sou eu? O que faço aqui? Alguém gosta de mim? Ninguém se preocupa comigo! - é brutal e complexa.

Para se chegar a este ponto - matar - é necessária uma acumulação e integração de intolerâncias relativamente às frustrações e uma perda de esperança no próprio e nos outros. É necessário ser interiormente "fantasma" para se poder fazer algo como isto. A falta de solidariedade interna do jovem é infernal; a existência passa a ser um papel rabiscado.

Deixem lá os jogos em paz e preocupem-se em perceber tudo o que é verdadeiramente articulado no desenvolvimento de identidades fragmentadas, colocadas na boca do vento e disponíveis para morrer no primeiro sopro.

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