2.27.2013

We are Portuguese, We are Portugal, Nós somos Portugueses, Nós somos Portugal

Since 1139874 hundred years and counting. We are here to stay.

 

The other side of the mirror

The powerful elements not captured by photographs. Where the static reality falls short of the narrative. 

Some famous pictures that ruined people's lives


Nations of brands

 We unite behind brands, behind celebrities, rather than behind nations. We have become more than nation states — we are corporation states.

Death of the Liberal Class

O sono: o importante regenerador

Muitas vezes, na nossa tendência para simplificar a realidade e colocar as pessoas em gavetas bem organizadas, se diz que quem dorme muito e preguiçoso e que o contrario caracteriza uma pessoa inteligente, que aproveita a vida, que e superior a banalidade do sono. Sempre tive uma opinião bastante firme sobre este assunto.

Dormir não e um luxo ou um mero exercício comparativo que visa sintetizar a realidade em abstrações ilusionistas; pelo contrario  trata-se de um processo regenerador da maior importância  Uma investigação interessante, hoje apresentada pelo The Guardian, demonstra que:

Sleeping less than six hours a night skews activity of hundreds of genes
Os psicólogos, porventura inspirados em varias investigações originalmente da Psicanálise sempre pensaram o sono como um campo privilegiado da saúde humana. Basta pensar que quando refletimos na depressão ou na psicopatologia pensamos imediatamente na avaliação da quantidade e qualidade do sono do individuo. Esta investigação apenas confirma a sua importante.

A ler.

2.24.2013

Grândola, Vila Morena

Uma canção com um significado precioso na história portuguesa está agora tornada numa amálgama de coisas que são tudo e coisa nenhuma e que pretendem demonstrar a revolta contra os governantes eleitos.

A questão que coloco não é se faz sentido, a questão é a escolha. A canção dos Deolinda teve impacto porque surgiu da inspiração do contexto específico. A "Grândola, Vila Morena", em repetição constante, é um desrespeito a quem vivia a ambição de um futuro de liberdade. É um desrespeito às gerações que estão agora a tentar lidar com este país.  

A "Grândola, Vila Morena" não deve ser um canivete suíço que serve para tudo desde que seja para protestar; não, serviu no novo amanhecer, pela democracia, pela liberdade. 

2013. Grândola, Vila Morena. Não, 2013, país livre, uma democracia, com problemas é certo, como muitas. Um país com sérios problemas económicos e sociais que originaram um problema financeiro. Grândola, Vila Morena serve para a revolta contra a falta de trabalho, para que se lixe a troika e o governo. A música não tem significado neste âmbito. 

Se queremos mudar o país, passemos a olhar para o futuro e não a invocar sempre o passado para lidar com as novas realidades. Criemos músicas novas, criemos o futuro. 

A Portugal falta futuro, falta comunidade, falta visão e energia, falta compromisso e respeito, falta honestidade, falta liberdade, mas não aquela a que a música e o contexto histórico se referem. Falta liberdade e vontade de abraçar o futuro, de criar um país, de renascer. 

2.20.2013

Brain-storm! 20-02-2013

Governo já espera recessão de 2% e mais um ano para cumprir défice
Por vezes parece que isto não passa tudo de um mero exercício académico. A famosa espiral?

Antes o Relvas que tais selvas

O Relvas já deveria ter saído há muito mas o insulto fácil e obviamente deslocado (fascista?), em situações em que se poderiam colocar perguntas importantes, não é, sem dúvida, a melhor forma de mostrar o descontentamento.

Deadbeat nation

Nearly half of Canadian provinces had to be bailed out in the 1930s. Ottawa has since introduced transfer and equalization payments to the provinces, but that hasn’t kept their finances stable, nor does it mean the federal government won’t feel obliged to bail them out.

Hum... Interessante. 

2.19.2013

Medir o (in)sucesso: uma lição

É muito perceber a tónica do Bill Gates na análise objetiva do que funciona e do que não funciona, numa gestão eficiente dos recursos. 

Vale a pena ouvir com atenção e utilizar esta mensagem como uma metáfora da discussão sobre a reorganização do Estado. Preferia que fosse pensar a sociedade e não apenas o Estado mas talvez isso fosse pedir muito. 

Aqui fica.




Notas sobre a partida (II)


No seguimento do texto anterior, julgo ser importante deixar uma breve nota sobre a preparação da partida para outro país. Na verdade, trata-se de um comentário à mera consideração da saída.

Dinheiro. Muitas pessoas sem trabalho e salário ou com trabalho mas com um salário pouco satisfatório, querem sair de Portugal em buscar de melhores condições financeiras. Focando apenas o aspeto material, que é tão importante, gostaria que considerassem o seguinte.

Um salário na Suíça ou em França parece ser muito elevado quando comparado com o salário de uma função equivalente em Portugal. Quando as pessoas em Portugal imaginam um salário de 2000€ num desses países ou em outros países, imaginam que a diferença entre esse salário e nada é, de facto, muito interessante. Não me querendo focar nos aspetos que lhes estão associados, quero apenas comentar a situação de quem está em Portugal e compara o seu salário com o salário mais elevado de outro país.

Existe um facto que parece ser muito óbvio mas que ganha outra dimensão quando as pessoas vivem essa diferença: um salário de 2000€ pode ser interessante mas poderá também ser uma verdadeira cenoura para uma situação de trabalho mal pago. Eu explico.

Um valor aparente aliciante esconde o facto de o custo de vida nesses países ser brutalmente mais caro. Se estão habituados a rendas de casa de 300€, esqueçam. Dependendo das zonas, uma renda com 1 e três 0 não é de estranhar. Quando somam a esse valor todos os gastos mensais, poderão ainda ficar com mais dinheiro do que aquele que estavam acostumados. Contudo, adicionem a esse valor fixo mensal de despesas outros gastos associados e talvez tenham uma surpresa.

Por último, e sendo esta uma questão muito importante, se estão mesmo interessados em sair, informem-se junto de pessoas credíveis que vós possam dar uma ideia do custo de vida para o local onde se desejam mudar. Nessa equação, e pensando que não têm contrato de trabalho, encontrem soluções que mitiguem os primeiros tempos. A realidade virá depois.

2.17.2013

Unions

Unions are just like onions, they make me cry.

À volta da mesa dos partidos políticos



Será que existe alguma explicação razoável para que os telejornais e restantes orgãos de comunicação social façam uma ronda diária pelas declarações dos partidos políticos?

Teremos esquecido que os partidos políticos não são a política? Ou que existe mais Portugal do que o António José Seguro diz ou que a Catarina Martins vocifera? 

Educação em Portugal vs Educação em Ontário, Canadá


A Educação, a seguir à Saúde, é o principal ministério de um país. A missão da Educação é fulcral e muitas vezes condicionada pela escassez dos recursos financeiros que existem.

Estando agora no Canadá e tendo uma ideia da Educação em Portugal, resolvi confrontar os dados financeiros dedicados à Educação na província de Ontário e em Portugal. O número de habitantes é ligeiramente superior em Ontário (mais 2.8 milhões) e o nível de desenvolvimento económico é muito diferente. Só para ter uma ideia, de acordo com os valores do FMI, em dólares, o PIB de Portugal era, em 2011, cerca de 210,620 biliões de dólares americanos e o PIB de Ontário é 654,561 biliões (2011). Isto significa que o PIB da província de Ontário é mais de 3x superior. 

Eis os dados para Portugal.

Os dados para Ontário (The Education of Ontario - televisão TVO*) 





  • População: 13.366 milhões (2011) 
  • PIB 654.561 bilioes de dolares 
  • Despesa em educação: 3.1% do PIB em 2011, 20.3 bilioes (2011), excluindo ensino superior. +7.5 biliões para o ensino pós secundário, i.e., cerca de 28 biliões total. Ou seja, cerca de 4.3% do PIB
  • Alunos matriculados: 2.061.390 (sem contar com os alunos do ensino pós secundário) 
  • Número de professores excepto ensino universitário: 114.387 

Se as contas estiverem certas e tentei verificar os dados nesse sentido, então temos os seguintes factos:
  • O valor da despesa ou investimento em Educação, como preferirem, é muito similar. 
  • Com o número de estudantes do ensino pós-secundário, Ontário tem e como seria expectável, mais alunos inscritos do que Portugal. 
  • Os resultados obtidos pelos estudantes de Portugal e Canadá nos testes PISA em 2009 revelam uma diferença estatisticamente significativa (489 vs 524, respetivamente, valores médios).
  • As escolas da província de Ontário estão todas equipadas com os recursos necessários, incluindo aquecimento no Inverno e ar condicionado no Verão, o que significa que a despesa em termos de consumo energético será mais relevante do que em Portugal. 
  • Os professores na província de Ontário ganham bem. Ganham mesmo bem. O professor no início de carreira ganha cerca de 45 mil dólares. Há quem argumente que fazendo uma análise de custo por hora, incluindo benefícios, então ainda ganham mais do que...bem, ganham mesmo muito. 
  • As turmas têm todas 23 ou menos estudantes
  • O ensino obrigatório é até aos 18 anos.
  • Os currículos são muito diversos e incluem opções muito peculiares (woodshop é uma das disciplinas, mesmo para quem está na área académica; managing personal resources, que ensina os alunos a viverem sozinhos, é outra das disciplinas disponíveis). Mais oferta, mais complexidade, teoricamente mais professores. 
  • A diversidade de populações implica um grande esforço da integração de alunos que não são fluentes em Inglês.
Estes são alguns dos pontos mais óbvios nesta análise. Daqui decorre o tópico de discussão que considero ser mais relevante:

  • Por que motivo é que com praticamente o mesmo dinheiro, existem mais opções e melhores resultados em Ontário?
Várias questões decorrem desta pergunta e a discussão terá certamente que incluir vários sub-tópicos, tais como:
  • Organização do sistema educativo e prestação dos serviços de Educação.
  • Currículos escolares e a diferença entre ensino aplicado (applied) e académico (academic);
  • Carreira dos professores;
  • Papel da comunidade na Educação;
  • Importância das escolas privadas na Educação.
Muitos mais tópicos serão importantes, mas estes seriam relevantes na compreensão das causas que determinam que a situação entre Portugal e Ontário seja tão diferente. 

Para o caso de alguém ter interesse em perceber mais o tom do debate e o que se debate, eis um debate na TVO sobre a Educação em Ontário.



* canal de televisão de índole educacional.

2.12.2013

America...the greatest _____ in the World

This exceptionalism narrative about America is so stupid that it breaks my heart

I don't really know if this is just an act, neither I confirmed the stats, but this is definitely a good answer to a stupid question. 



A mola de Deus

As superstições advêm de vários factores, nomeadamente, sugestionabilidade, coincidências e um património de narrativas que lhes poderão dar contexto. 


Segundo o jornal Público, esta fotografia foi obtida pelo repórter fotográfico Alessandro Di Meo, da agência noticiosa italiana Ansa, depois do cardeal Angelo Sodano ter classificou a renúncia de Bento XVI como um "trovão em céu sereno".

Esta situação  por mais explicações que tenha, e elas são simples, estará sempre envolvida como marcador de livro nas narrativas Católica e Cristã. Deus comunicou a sua mensagem. A segunda parte agora será tentar descodificar a mensagem, o que certamente estará no âmago dos argumentos que a criaram. 

Por mais inaudito que possa parecer, este tipo de ratoeiras esta por todo o lado. A questão  Ninguém percebe muito bem o que se passa, de tão embrenhados que estão numa narrativa que é completamente dominadora. 

Por outro lado, não é mais do que uma versão da realidade, que se assume totalitária pelo poder que apresenta. O Papa Bento XVI tem um poderoso argumento contra este argumento que faço, o que ele designa como "relativismo moral". Não rejeitando o argumento, eu prefiro ver esta e outras realidades semelhantes com outros olhos. Não porque ele ou os cristãos estejam errados; não, apenas porque tenho outra perspetiva. 

As semelhanças com a discussão da austeridade vs crescimento em Portugal é uma ratoeira semelhante. Embora algumas pessoas já tenham referido, a questão não é essa. Ao focarem-se apenas no meio e forma, na bicicleta, para o efeito do exemplo, esquecem-se para onde querem ir, o objetivo, a visão. O risco? Andar sempre às voltas, completamente perdidos, a gastar os pneus. 

A mola da mente mostra o seu poder. 

2.11.2013

Sanity and fulfilling work: redundancies

I'm starting with the "How to stay sane", which is something that sometimes is not as easy as we might think. :)


2.10.2013

Grande Reportagem da SIC - "A Fraude"

Eis os links para as quatro partes da reportagem.

Parte 1 - A Fraude

Parte 2 - Anatomia de um glope

Parte 3 - No rasto do dinheiro

Parte 4 - A caixa negra

Uma vergonha de A a Z.

2.09.2013

Notas sobre a partida (I)


Se estás a pensar aventurar-te para outro país, certifica-te se tens as condições mínimas para o fazer. Dessa forma evitarás surpresas muito desagradáveis. Eis alguns pensamentos:
  • A verdade é que não saberás muito bem o que irá acontecer. O primeiro ponto é esse reconhecimento, o de que por mais que tenhas planeado tudo ao pormenor, muitas situações serão completamente inesperadas, negativas ou positivas.

  • Com contrato de trabalho. O tão almejado contrato de trabalho antes de sair de Portugal. Se o tiveres, considera-te uma pessoa com sorte. Mas mesmo que o tenhas, trata de planear alguns dos passos que terás que tomar após a chegada. Na maior parte das situações, o interlocutor da empresa no país destino providenciará ajuda.

  • Sem contrato de trabalho. Para onde vou? Onde ficarei alojado até conseguir arranjar trabalho? Tenho um amigo? Um conhecido? Um conhecido de um conhecido? Prudência! Muitas vezes as pessoas querem fazer-se muito amistosas e colaborantes apenas para ficarem bem na fotografia. Certifica-te, antes de saíres do país, que alguém te poderá auxiliar nos primeiros tempos. Com alguém refiro-me a uma pessoa que possa guiar-te nos meandros do novo mundo ou uma instituição de apoio a imigrantes.

  • Mente aberta. Sabes como funciona o mercado de trabalho na região para onde vais? Que aspetos culturais o caracterizam? Estarás disponível para trabalhar apenas umas horas por semana até encontrarás um horário completo? Ou para trabalhar esporadicamente? Estarás disponível a trabalhar numa função relacionada até conseguires uma oportunidade na tua área? Ou estarás ciente de que poderás nunca encontrar uma função na tua área?

  • Despesas. Tenta obter informações minimamente fiáveis sobre o custo de vida na zona para onde vais emigrar. Quanto custa uma renda dos apartamentos com as várias tipologias? Estarei disponível para partilhar uma casa? Será que o meu conhecido ou amigo me dará ajuda no alojamento? Como será em termos de transportes? Precisarei de um carro ou tenho transportes públicos? Viajar de bicicleta é uma solução? E no inverno, como será? A alimentação é cara? Quanto mais cara?

  • Rendimentos. Sendo difícil ter uma noção clara das despesas e rendimentos antes de saíres de Portugal. Nota que emigrar sem dinheiro e sem contrato de trabalho é quase uma garantia de desastre completo.

  • Mindset. Como abordas a experiência de sair do país? Uma aventura e uma aprendizagem? Uma saída para todo o sempre? Prepara-te emocionalmente mas tem a noção de que aquilo que poderás vir a sentir e a pensar é completamente imprevisível.
Os factores são diversos e muito diferentes mas têm todos em comum a preparação para uma experiência complexa, muito complexa.

Saudade



There is something about these Portuguese words with no clear translation to other languages. They tend to convey a private, exclusive and well defined emotional state, which gathers no immediate intelligibility.

Saudade is, in that sense, one of the most beautiful Portuguese creations. The word,I mean. It goes back and deep to the sense of belonging and all that it entails. It is also an intimate narrative of Portuguese history.

Having saudade is like having a dialogical feast of emotions, where sadness and melancholy abound. Feeling saudade means having an interlocutor, vague or specific, like a person or a group of individuals. It also means the impossible, which stands at the core of what stops the person to be with whom she wants to be.

Saudade is a mere window to an emotional state, inflammable element that fires the dialogue within ourselves and with others; an ocean of volatility between two distant singularities.
Saudade is A and B, and a bridge to Z. It connects the disconnections, physical frustrations of the fragile humans.

Saudade is the old ancient in the room, swinging on his chair, looking out for the static love in the unstoppable flow of the seasons.

Saudade is also fear but also love. Saudade is nothing more and nothing less, is. It has a word but it accepts no social mutation.

Saudade. Always of you, whoever you are, from me. To you.

Como é que uma sociedade se transforma?


Muito simples:
Será que um país se transforma principalmente através da dinâmica da sua sociedade ou pela ação de um ou vários governos?
...

Canadá, Portugal e o comunismo: uma interrogação

comunism


Por mais que me tentem explicar a razoabilidade da narrativa do Partido Comunista Português (PCP), eu juro que não percebo como é que neste momento da história ainda vivem encapsulados numa prisão de vidro. Poderei dizer o mesmo da CGTP. A existência destas organizações fez sentido mas a sua ação atual é um autêntico anacronismo.

Poderíamos pensar que só em Portugal é que existe um partido comunista, sinal do nosso atraso de desenvolvimento. Acontece que tal não é verdade, como seria expectável.

Por motivos óbvios, vou centrar-me no Canadá e no seu partido comunista e no PCP.

O Partido Comunista Canadiano afirma no seu ponto primeiro:
Down through the ages, working people have dreamed of a world of freedom and equality, an end to exploitation and misery. Throughout the twentieth century, millions of people around the world rallied to the cause of socialism. Today, big business and its boosters maintain that socialism is finished, that human  development has ended, and that capitalism will endure forever.
O Partido Comunista Português afirma também no primeiro ponto do seu programa:
O Partido Comunista Português, partido político da classe operária e de todos os trabalhadores, inteiramente ao serviço do povo português e de Portugal, tem como objectivos supremos a construção do socialismo e do comunismo – de uma sociedade nova liberta da exploração do homem pelo homem, da opressão, desigualdades, injustiças e flagelos sociais, sociedade em que o desenvolvimento das forças produtivas, o progresso científico e tecnológico e o aprofundamento da democracia económica, social, política e cultural assegurarão aos trabalhadores e ao povo liberdade, igualdade, elevadas condições de vida, cultura, um ambiente ecologicamente equilibrado e respeito pelo ser humano.
Como sempre, na melhor tradição portuguesa, está tudo aqui, incluindo o socialismo, o comunismo, a libertação da opressão feito pelo homem e a promoção da ciência, tecnologia, cultura e ambiente. Mais completo seria impossível.

Sendo que o Partido Comunista Canadiano apresenta-se sozinho às eleições, constatamos que nos primeiros 5 mais votados não há sinais deles. Os Verdes canadianos estão lá, mas não os comunistas. Interessante seria analisar se as diferenças dos partidos verdes dos dois países são muito significativas. Julgo que sim, daí o PCP se unir aos Os Verdes nas eleições em Portugal.

O Partido Comunista Português nas últimas eleições ficou em penúltimo lugar, associando-se aos Verdes, numa votação de 7.90%. Ora, Partido Comunista Canadiano mais Verdes canadianos obtiveram nas últimas eleições uma percentagem de 3.93%, 3.91% dos verdes mais 0.02% dos comunistas.

Sendo Os Verdes portugueses uma mera extenção do PCP em termos ideológicos, infelizmente, 7.90% do PCP+Verdes é cerca do dobro do Partido Comunista Canadiano mais Verdes canadianos.

A minha questão ingénua é: o que quererá isto dizer? e terá alguma significado?

A expectativa de schadenfreude é desporto em Portugal


A expectativa de schadenfreude é desporto em Portugal.

Quem não quiser ler o texto todo, por favor, fique com esta frase. É bem fixe e explica basicamente o texto inteiro.

Há uma impressão que se começa a colar nos meus pensamentos e que não me larga. Os processos de criação de inteligibilidades são, provavelmente, uns dos mais belos instrumentos de regulação relacional e de organização de uma sociedade.

Este processo, descrito num repertório permitido nas relações interpessoais, é como um regulamento interno que nos enquadra, mesmo que nem sequer solicite a nossa autorização. Flui, num mar de dezenas de anos de interseções que se poderão assemelhar a redes neuronais. A forma como as experiências sensoriais e psicológicas marcam o nosso córtex é de uma misteriosa complexidade. O mesmo se passa com os povos e as sociedades.

Vejamos o exemplo da invenção patenteada do ovo estrelado instantâneo, Egg Ready, pela Derovo. O que mais abundou nos momentos seguintes por esta bela montra de parafernália cultural foi uma jocosa abordagem ao feito desta empresa.

Num post feito pelo António Nogueira Leite no Facebook, os comentários tinham de tudo mas fundamentalmente uma crítica destrutiva, de desvalorização completa. O comentário que lá deixei clarifica aquilo que eu penso sobre a atividade quase zombie de um grande número de Portugueses.
O português, de facto, só funciona no bota abaixo. Se inovam em x, é porque y é que era bom; se não inovam, é porque o país é uma nulidade e os empresários estão sufocados pelo governo; se registam uma patente, dizem que não convence; se não registam, dizem que Portugal precisa de registar mais patentes.
Terminei escrevendo:
Juro, foi preciso vir viver para o Canadá para nos olhar de fora e perceber que o problema somos - mesmo - nós, sociedade.
Sem esquecer aquilo que realmente penso:
Já não há paciência, desculpem lá.
Uma grande maioria está apenas à espera que tudo resulte mal e que tudo seja desvalorizado, para que depois se confirme a brilhante inteligência que lhes assiste. Mais uma vez, e já aludi a este tema anteriormente, não se trata de inteligência, trata-se de um processo de seleção de informação a montante, de valoração negativa intermédia e de um expectante êxtase de schadenfreude.

Lá no fundo, lá no fundo, o curral está cheio de bosta, cheio de porcos estúpidos, mas lá no canto está o cavalo majestático, a olhar do alto da sua imponência para os pobres porcos. Assim pensarão os geniais e repetitivos zombies.

Ora, porcos e cavalos para o canto da sala. Vou tentar demonstrar qual seria a reação no Canadá a esta invenção canadiana (imaginem) do ovo estrelado instantâneo, Egg Ready, para ser mais fixolas.
Ora bem, eu estaria a dizer isto:
O canadiano, de facto, encontra nas pequenas coisas grandes oportunidades para reforçar a sua perceção positiva do país. Centrando a sua atenção na inovação, enaltecem a capacidade dos seus empresários de serem competitivos e a competência dos seus trabalhadores. É por isto que o primeiro-ministro, um bocadinho tótó, afirma que os canadianos devem estar orgulhosos do país que têm.
Esta simplificação visa o mostrar aquilo que é subterrâneo na análise do país. Não falo dos desafios financeiros e das necessidades do Estado, falo da sociedade. O pessoal está a ficar completamente lavado cerebralmente por esta máquina infernal de deterioração rápida da sanidade coletiva.
A matemática é simples:
  • um aspeto positivo: desconfio, porcaria de certeza, não tem hipótese! Se inventassem era um elefante a pilhas! Agora ovos instantâneos? Que mariconços são estes gajos, pah? Ovos? Ovos é prá tua prima!
  • um aspeto negativo: já sabia, está tudo podre! Ladrões do caraças! Esta m*rda não vai a lado nenhum! Chuuuuuulos! Só querem é roubar os trabalhadores! Que comam eles os ovos! Maricas do caraças! Façam é bifes, pah!
A soma? Sempre uma subtração.

Nota 1: a palavra schadenfreude vem da língua alemã. Espero não vir a levar com uma pedra por a utilizar...

Nota 2: se forem razoáveis saberão que não estou a falar no princípio da Pollyanna; não, apenas me refiro a sanidade coletiva.

Nota 3: se leram o texto todo e perceberam que tive o cuidado de alertar para a existência de uma tendência portuguesa, então consegui transmitir a minha mensagem; senão, terei que indicar a leitura da nota 4.

Nota 4: se leram o texto todo e perceberam que tive o cuidado de alertar a existência de uma tendência portuguesa, então consegui transmitir a minha mensagem. Sim, é a mesma nota. Só para reforçar.

Nota 5: reparem como faço uma crítica por considerar que devíamos abordar o presente e o futuro com outras lunetas. Giro, não é?

Diferenças entre Portugal e o Canadá: a sociedade revisitada (2)


Num texto anterior descrevi como existem muitas semelhanças entre Portugal e o Canadá ao nível da contestação social e uma diferença significativa ao nível da criação de inteligibilidade do assunto em questão.

O caso particular prende-se com uma disputa entre os sindicatos de professores da província de Ontário e o governo. Os novos desenvolvimentos sobre este caso indicam que o governo poderá multar os sindicatos e os professores se estes desobedecerem ao governo.
If the government’s application to block job action is approved and teachers still defy the order, shuttering elementary schools for the second time this academic year on Friday, the government can take the matter to court. Teachers could be found in contempt of court, or the union could be fined $25,000 and individual teachers $2,000 – on top of being docked regular wages – for each day of illegal strike action, a government official said.
Mais uma vez questiono se aquilo que aconteceria em Portugal seria muito diferente, tanto ao nível dos sindicatos como dos governos. A contestação seria muito semelhante, é certo, mas será que o governo ousaria ameaçar multas? Tenho muitas dúvidas.

Por outro lado, e focando a forma como sociedade avalia este tipo de questões, o que temos é uma análise muito crítica por parte dos professores e sindicatos sobre as medidas do governo e uma perceção razoavelmente expectante da sociedade. Noto, por outro lado, a ausência de referências a pedidos de demissão do executivo. Isto, para mim, é estranho.

Por último, e reforçando um dos aspetos mais importantes neste tipo de casos, é a forma como eles criam sentido do problema. Mais uma vez repito, o país e a província parecem sair razoavelmente incólumes deste conflito, assim como o sistema educativo.

Estou em crer que a amplificação em Portugal, na cacofonia da comunicação social e comentadores, traria um conflito semelhante para resultados mais graves.

You can't really tell that I'm Portuguese, can you?

food


Portugal, a sua sociedade, os portugueses e os outros: um comentário


My mother says I’m becoming English. This hurts me, because I know she means I’m becoming cold. I’m no colder than I’ve ever been, but I’m learning to be less demonstrative. . . . I learn my new reserve from people who take a step back when we talk, because I’m standing too close, crowding them. Cultural distances are different, I later learn in a sociology class, but I know it already. I learn restraint from Penny, who looks offended when I shake her by the arm in excitement, as if my gesture had been out of aggression instead of friendliness. I learn it from a girl who pulls away when I hook my arm through hers as we walk down the street— this movement of friendly intimacy is an embarrassment to her. (Hoffman, 1989, p. 146)

Referi num dos meus primeiros textos que acredito que um dos principais problemas de Portugal é a forma como nós, portugueses, nos organizamos enquanto sociedade. Dito assim é interessante e apelativo mas pouco útil. Terá talvez o único mérito, talvez não despiciente, de redireccionar as energias para fora do pensamento de que as finanças públicas equilibradas irão transformar o país. O processo poderá, mas não estou certo que pelas melhores razões se não prepararmos o futuro. Hoje.

Portanto, a sociedade. Não tenho bem a certeza se quero utilizar a palavra “cultura”, pois ela inclui várias normas, signos e conteúdos históricos que não têm uma qualificação tão próxima do nosso dia a dia. É uma preferência. O que aqui importa é a análise da sociedade portuguesa e a compreensão de muitos comportamentos e predisposições importantes para perceber o que poderia ser melhor.

Um post interessante, divulgado no blog Portugal Contemporâneo - Diário de um país visto à distância, vem um pouco ao encontro desta questão das raízes culturais que se traduzem em hábitos e comportamentos de maior condescendência por parte dos Portugueses relativamente ao trabalho e à sua forma de viver.

Não estou totalmente de acordo com algumas das premissas encontradas para justificar determinados comportamentos dos portugueses.

Antes disso, uma nota muito importante para referir que qualquer generalização é perigosa, porque a maior parte das vezes implica uma redução da complexidade de um determinado tema. Julgo que é necessário ser muito prudente nessa generalização quando falamos de sociedades. É tentador mas deveremos apelar aos aspetos particulares para justificar essa abordagem.

É importante assinalar que Portugal se encontra numa transição muito significativa, em que os agora adultos que nasceram a partir dos anos 70 são, na sua maioria, é essa a minha perceção, pessoas com visões e práticas ligeiramente diferentes dos seus antepassados. E não, não estou a dizer que todas as pessoas que nasceram antes são menos inteligentes ou contaminadas por um vírus que as faz pertencerem piores; não, o que quero dizer é que as transformações de Portugal desde a ditadura foram a base onde estes miúdos nasceram, sem a guilhotina moral da ditadura. Felizmente.

Neste sentido, uma análise de Portugal deverá ter em conta esta complexidade. Esquecê-la servirá apenas para contribuir para a confusão e conclusões precipitadas.

Portanto, embora concorde que aspetos significativos da cultura portuguesa e práticas da nossa sociedade constituem factores de letargia, serei levado a concordar se falarmos de uma parte dos portugueses. Como referi, creio que as coisas mudaram e continuam a mudar.

A minha experiência tem-me mostrado como as novas gerações são mais (“mais”!) mundividentes, sensíveis à multiculturalidade, disponíveis para empreender novos desafios e mais abertas ao risco.
A experiência de viver fora de Portugal tem também permitido que compare se somos assim tão diferentes dos jovens adultos de outros países. A minha resposta não é linear mas tentarei ir respondendo a esta questão e outras ao longo da análise do post do Pedro Arroja.

Não é para tomar a sério
A primeira coisa que tenho para dizer é que não somos nós que possuímos a nossa própria cultura. É a cultura que nos possui a nós. E como não somos nós que a possuímos, é grande a dificuldade de a modificarmos. O melhor e a primeira coisa que devemos fazer é adaptarmo-nos a ela e, depois, procurar inovar dentro dela.
Não completamente. Considerando que a cultura é extremamente dinâmica e relativamente difusa, a magia é que ela compreende é decorrente de um certo nível de familiaridade entre os seus membros.

Strauss and Quinn (1997) referem que cultures are not ‘bounded, coherent, timeless systems of meaning’ (...). At the same time, however, our experience in our own and other societies keep reminding us that some understandings are widely shared among members of a social group, surprisingly resistant to change in the thinking of individuals, broadly applicable across different contexts of their lives, powerfully motivating sources of their action, and remarkably stable over succeeding generations (p. 3)

Por outro lado, dizer que estas familiaridades ou signos relacionais estáveis de significação da realidade são toda a realidade é a mesma coisa que considerarmos que cada um de nós é uma realidade desfasada de todos os elementos que afetam a nossa complexidade.

Ainda, isto significa que nós criamos a nossa realidade, cultura, sociedade, à medida que ela nos vai devolvendo esse resultado difuso, pouco coerente e palpável, numa capitulação da nossa história.

Por estas razões, concordo que a inovação neste processo é uma forma de alterá-la mas não concordo que nos possamos adaptar-nos. Tal não é possível porque implicaria uma cisão entre elementos que não são possíveis separar.
Os portugueses são trabalhadores muito disciplinados na Dinamarca, na Alemanha ou nos EUA porque o protestantismo espalhou o agnosticismo e o ateísmo por esses países, e neles não valem as convicções pessoais e íntimas. Um trabalhador português que experimente nesses países invocar o trânsito para chegar sistematicamente atrasado ao trabalho, a necessidade de interromper duas vezes o trabalho para tomar café ou fumar cigarros ("é que, sem dois cafés, não me consigo concentrar..."), ou invocar dores de cabeça para faltar ao trabalho ("sinto umas dores na minha cabeça..."), e vai ver o que é que lhe acontece.
Se eu vejo este processo de inovação na sociedade, novelty, como um processo de criação de dialogicalidade, isso significa que não poderei aceitar “os portugueses”. Poderei aceitar “portugueses com uma perspetiva x, y, z, têm dificuldade em assumir uma cultura distinta, como aquela em que os valores são a, b, c”.

Todavia, a minha experiência, num país em que existe uma cultura protestante muito vincada não valida nenhuma diferença substancial sobre a minha experiência de trabalho em Portugal. A tolerância e compreensão justifica muitas e abusivas, por vezes, faltas de vários colegas nos locais em que trabalho.

A pausa para comer alguma coisa, o almoço partilhado com os colegas, a conversa sobre as futilidades do dia-a-dia, o cigarro, estão também aqui presentes. Como em Portugal, quando o ritmo e as exigências do trabalho são mais prementes, as pessoas respondem de acordo.

Julgo que é necessária muita prudência nestas análises demasiado simplistas. Pelos motivos enunciados, 1) os portugueses têm características partilhadas de familiaridade mas existe um nível de diferenciação muito significativo; 2) a multiculturalidade implica um equilíbrio entre culturas, em que as diferenças e a necessidade de participar numa cultura diferente estabelecem um valor positivo incalculável. Uma transposição artificial de uma unicidade, “um português”, para uma cultura diferente, afirmando características não predominantes ou apenas presentes nalguns portugueses, é insuficiente para qualificar os portugueses, para além de eliminar toda a fluidez das relações nos locais de trabalho.

No entanto, confesso que este tipo de raciocínios causais são apelativos. Por um lado demonstra como só poderíamos ser disciplinados por uma imposição externa, respondendo cordialmente ao um nível superior de exigência moral. Se a base de partida é errada, a causalidade é impossível.
Em Portugal nunca é despedido por causa disto e, indo os casos parar a tribunal, essas não são razões válidas de despedimento, porque os próprios juízes chegam atrasados ao trabalho por causa do trânsito, interrompem os julgamentos para irem tomar café ou fumar, e faltam frequentemente ao trabalho por doença. Este é um país católico, um país onde a realidade de Deus se exprime por convicções pessoais e íntimas, e as convicções pessoais e íntimas não são passíveis de fácil comprovação exterior.
Primeiro, ser católico não é necessariamente mau. Aceito, compreendo e acompanho alguns traços da Igreja Católica que são tudo menos razoáveis ou saudáveis. No entanto, e pegando no que referi atrás, simplificar desta forma, utilizando uma relação de causalidade entre espiritualidade e comportamentos ao nível do trabalho, é extremamente redutor.

Mesmo se fosse verdade, a realidade demonstra claramente como a grande maioria das pessoas têm uma visão da espiritualidade e da religião católica como um elemento de fundo, não uma força criadora e preponderante nas suas vidas. Basta pensar nos nossos colegas de trabalho em Portugal e tentar perceber a importância da relação entre a sua conceção da religião Católica e os seus comportamentos e hábitos.
Existe depois a questão da lentidão que o profissional do turismo citado pelo CGP observou em Portugal. O ritmo de vida é extraordinariamente lento, incluindo no trabalho. O emprego é visto por muitos como um meio de socialização, mais do que como um meio de realização pessoal. Os portugueses passam muito tempo no local de trabalho, mas é preciso dizer que uma boa parte dele é a socializar, não a trabalhar. Comparado com os países do norte da Europa, este é um país onde tudo se faz com calma e muitas coisas demoram uma eternidade a fazer.
Concordo que existe uma perspetiva em vários serviços e pessoas que as coisas são para se ir fazendo e que isso é completamente negativo. Não concordo, mais uma vez, com a causalidade fácil entre trabalho e socialização.

Aliás, um trabalho é uma atividade de socialização, em que se recebe dinheiro em compensação pelo tempo e energia que uma pessoa dedica a criar valor.

A minha experiência, utilizando a acima relatada, não permite tirar conclusões lineares sobre a relação entre socialização e trabalho ou sobre a lentidão da vida em Portugal. Errado.

É verdade que os portugueses trabalham muitas horas e que o resultado total da produtividade é baixo, mas gostaria de perceber qual o produtividade por sector. Por outro lado, a riqueza que se cria não é uma variável completamente explicada por um nível determinado de produtividade, para além de não ser um indicador que explique a saúde e harmonia de uma sociedade.
É verdade também que, em muitas terras, os únicos negócios que se vêem abertos são negócios de comes e bebes, padarias, pastelarias, tascas, restaurantes, bares e tabernas. É verdade que os portugueses gostam de comer e perdem muito tempo a comer, mas a mesa é também um meio de socialização, que é aquilo que eles gostam acima de tudo. É claro que comer muito e demorar muito tempo a comer não ajuda nada à produtividade do país. Um dos hábitos que eu herdei de viver vários anos num país protestante é que, ainda hoje, ao almoço, apenas como uma sandes e bebo uma coca-cola. Mas é a única excepção que consigo citar, porque em todos os outros aspectos, a cultura portuguesa já se apropriou de mim  outra vez.
Aversão ao risco. Resposta aos incentivos. Sinto que o autor está a descrever uma aldeia transmontana, quando a verdade é que o país é, para o melhor e pior, muito diferente desse contexto. Para além disso, quantos portugueses mais disponíveis para assumirem riscos estarão a criar tabernas e pastelarias?

A questão do almoço em 20 ou 30m, em que se come uma sandes e se bebe alguma coisa, é tudo menos sinal de maior dedicação ao trabalho ou de maior desenvolvimento económico. Considero uma ilusão pensar que esse é um sinal de maior desenvolvimento social. Mais importante para mim é pensar o que se faz com as horas em que se trabalha e, ainda mais importante, a relação que esse facto tem com toda a estrutura organizacional. Isolar factores que estão tão intrincados na produção de um resultado tão global não é a melhor forma de tentar percebermos o subdesenvolvimento económico em Portugal.
A questão do pequeno negócio está relacionada com o personalismo católico, e é uma forma de os portugueses realizarem a sua própria personalidade. Cada um quer ter um negócio, mas um negócio que seja só dele e que ele possa fazer à sua maneira, não um negócio em que ele participa com os outros e que também é dos outros. Os portugueses, regra geral, são, por isso, péssimos sócios. Médias e grandes sociedades em Portugal raramente têm sucesso, excepto quando são detidas maioritariamente por um só homem. As outras desfazem-se por querelas internas entre os sócios.
Concordo em parte. Para além de haver aversão ao risco, existe uma tendência muito pronunciada para considerar que criar riqueza é uma coisa má e que é sempre feita por vias travessas. Basta ouvir os discursos da CGTP ou de outras instituições para percebermos que a mensagem que é transmitida há décadas visa o antagonismo permanente e não uma visão e prática de compromisso. Mas, e mais uma vez, as coisas estão a mudar e isso já se constata.
Finalmente, o CGP parece atribuir grande importância à questão do socialismo. Eu não atribuo. É verdade que nos últimos trinta anos Portugal caiu para o lado do socialismo, e não do liberalismo, mas isso foi porque se integrou no espaço da UE, liderado pela França e pela Alemanha onde prevalece a ideologia do socialismo democrático. A cultura portuguesa não é ideológica e, neste aspecto, o povo português é um "Maria vai com as outras". O dinheiro vinha da Alemanha, e nós deixámo-nos ser como os alemães, ou quisemos ser como os alemães. Se amanhã o dinheiro viesse dos EUA passaríamos a ser liberais como a mesma facilidade.
Nós não temos nem nunca tivemos ideólogos socialistas ou de outra natureza. Basta ver o que deixaram escrito Álvaro Cunhal a propósito do comunismo, ou Mário Soares, Sá Carneiro ou Cavaco Silva acerca da social-democracia ou do socialismo democrático para logo se constatar que tudo aquilo é de uma pobreza ideológica indescritível. Não é para tomar a sério.  
Afirmar que uma cultura é também ideológica não foge da verdade mas prefiro pensar que aquilo que falta é um número considerável de atores na sociedade que partilhem um rumo mais ou menos identificável e que as pessoas o assumam como seu. Nesse sentido, acho que não existe concordância sobre determinados princípios e uma visão partilhada da realidade e do futuro.

Um povo “Maria vai com as outras"  não me parece ser a melhor explicação para perceber as dificuldades que os portugueses têm tido enquanto sociedade para encontrar um caminho que faça sentido. Mais, a relação entre bottom-up e top-down, entre os poderes instituídos, as organizações que são mais audíveis na criação das nossas narrativas e volições coletivas e a sociedade portuguesa, é apenas uma expressão de uma procura de rumo. É nesse sentido, julgo eu, que a sociedade tenta encontrar as suas referências e criar algo que faça sentido.

Mas sim, concordo que a cacofonia, ou aquilo que chamo de esquizofrenia mediática e coletiva, é o principal factor desta deriva.

Estes exercícios são muito interessantes. O problema é que sempre que reduzirmos a complexidade de uma sociedade estaremos a retirar-lhe qualquer capacidade de novelty. Essa capacidade está em cada um de nós mas um discurso simplista apenas servirá para a inibir.

Por outro lado, a compreensão e aceitação das idiossincrasias de um povo e um determinado resultado económico, não são, de todo, um território sem minas.

A multiculturalidade é o facto, a diferenciação é inevitável. Não temos que ser todos iguais ao protótipo; antes, como em qualquer processo de psicoterapia, cada um tem que trabalhar na condição que não pode escapar de si próprio no processo de transformação. Isto significa uma simplicidade complicada de pequenas transformações que consolidam um caminho distinto.

Por último, a nossa diferença, a expansividade emocional dos Portugueses, a proximidade relacional que mantemos, a nossa tendência para resolvermos muitas coisas à mesa, entre muitas outras particularidades, não é má, nem tem que ser boa. É diferente, é cultural, é nossa, é distintiva, é particular. Assumir que esta forma de viver é incompatível com sucesso coletivo ou com uma economia desenvolvida é errado.

É impossível aceitar-te a multiculturalidade e ao mesmo tempo uma inferioridade relativamente a outras culturas. A intersecção do qualitativo e do quantitativo não produz uma equação razoável nesta análise. Este campo de análise produz-se no enquandramento antropológico e sociológico, não numa matriz matemática de super simplificação da realidade.

Diferenças entre Portugal e o Canadá: a sociedade e as suas narrativas


As sociedades vivem organizadas em torno de narrativas e significados que estão imbuídos nas nossas práticas discursivas. A nossa cultura é um processo em eterna construção. A realidade é negociada constantemente.

Serve esta breve introdução para deixar um tópico de reflexão.

Se pensarmos que o BPN e os problemas que daí decorreram foram resultado de atividades criminosas, e se nos focarmos na banca dita saudável, que age dentro da lei, então temos uma análise curiosa.
Nenhum banco português aparece na lista dos 50 bancos mais seguros do Mundo. Tão simples quanto isso. Na mesma lista, vários bancos canadianos aparecem como sendo dos mais seguros. Aliás, tão seguros que:

Moody’s is calling Canada’s bank sector the soundest in the world and a safe haven for investors in a report that also gives the federal government high marks.

Portugal e os bancos portugueses certamente que não têm essa qualificação.

Agora o mais interessante é que entre 2008 e 2010 os bancos canadianos receberam 114 biliões de dólares. Qualquer coisa como 50% do PIB Português. Estão a seguir?

Curioso é saber que este apoio do governo aos bancos teve a designação de apoio de liquidez. Lembram-se da designação europeia? Bailout. Menos simpática, não é? Para além disso, 12 biliões foi o valor que foi destinado no bailout Português para acudir aos bancos. Alguns bancos utilizaram esse dinheiro, outros não.

Ora bem, a notícia (aqui e aqui) refere que:

From October 2008 until June 2010 Canada's banks received over $114 billion from the government - which means from us, the tax payers. But the government didn’t bother telling us that this money came from us. In fact, every man, woman, and child paid over $3,400 to cover the cost. The media never makes this clear either which leads to an ignorant public.

In the U.S. and the rest of the world this is called a bank bailout. In Canada it’s called “liquidity support.” Whatever pleasant word you use, it doesn’t change the fact that the public once again has to pay for private profits.

What is especially scandalous is that during the year-and-a-half bailout period, the banks made an incredible $27 billion in profits and CEO compensation increased 19 per cent.

In fact, Canada gave CIBC, BMO, and Scotiabank more money than their actual worth. That means Canada could have bought the failing banks, changed their backwards policies, and shared the profits with all the taxpayers.

O mais engraçado, se pensarmos nos valores em percentagem do PIB alcançamos um valor superior para os bancos canadianos do que para os bancos portugueses...

Mais uma vez, encontramos diferenças substanciais entre os dois países ao nível da substância? Não parece. Ao nível da narrativa? Completamente.

Ah grande Pessa, e esta hein?